segunda-feira, 11 de novembro de 2013

Declaração para quem me lê

Só quero deixar algo bem explicito, ser um doente transplantado é , na procura de melhor palavra, overwhelming. É avassalador a corrente de sentimentos, mudanças internas e externas, e a longa caminhada que se inicia, especialmente para quem antes suportava o trajecto da diálise.

Cada um tem a sua forma de reagir, responder e absorver as situações. Nenhuma é correcta, tal como nenhuma é incorrecta. Cada qual é como si mesmo e apenas isso importa. Tomando a máxima que tantas vezes é usada quando fazemos perguntas sobre “como é o transplante, e isto e aquilo..” é-nos dito por médicos e enfermeiros que pode variar e a reacção das pessoas nem sempre é a mesma. É um mapa sem cantos definidos e cada um de nós tem as suas próprias passadas a dar.

as minhas não teem sido das piores, se formos pensar que até agora as analises teem vindo sempre bem, que me consigo mexer bem e caminhar, fazer tudo em casa, etc… há quem fique e sofra muito mais logo a seguir a operação e nos meses seguintes. Dito isto, eu sofro de outra maneira, e como tal, expresso-o porque é o meu direito e vontade fazê-lo.

quem se sentir sensibilizado ao ponto de exagero, feche a janela e não leia mais.
quem se sentir criticado ou ofendido ou chocado, faça o mesmo.

Expressar o que sinto, deitar fora o que queima cá dentro sempre foi e continuará a ser a forma como processo o balde cheio de emoções que me compõem e lamento que alguns não gostem, quase tanto quanto lamento que muitos fiquem preocupados e alguns se regozijem com os meus azares e sofrimentos. Mas não vou deixar de processar as coisas como sempre o fiz e funciona para mim. É assim que me mantenho sã mentalmente.

Há alturas que noto o meu descontrolo emocional e penso que devo alertar que todos os momentos são difíceis mas tenho consciência que não são eternos. Nada é eterno, seja de bom ou mau. Claro que nos momentos do descontrolo em si, é difícil encontrar a razão e a visão para compreender que o momento em questão é passageiro.

Seja por culpa da medicação ou não, os meus momentos menos felizes teem sido absorvidos por mim com uma força que me supera e por isso tenho tido dificuldade em encontrar o equilíbrio que sempre tive entre o insano e o são. Mas acredito, confio que tal como em imensas outras alturas da minha vida, também esta será ultrapassada e irei sair do outro lado diferente, mais evoluída, mais eu.. ainda que um eu diferente daquele que conheço agora.

Se até hoje nunca fiquei caída no chão depois de todos os tombos e rasteiras, não será agora que vou ficar.

Cada dia é novo, e alguns teem sido muito escuros.. mas sei que dias mais solarengos existirão.

3 comentários:

  1. Claro que sempre virão dias solarengos, felizes e que te trarão tantas coisas boas Tânia. Continua a expressar-te da forma que queres e que te faz sentir melhor. Bem sei do que falas e de como todas temos dias não. Umas com um determinado problema, outras com outros e nada como sentir de esta ou daquela forma, que alguém nos ouve e tem um carinho para nós, um ombro ou tão somente um ouvido para nos escutar e sem pedir nada em troca..

    Beijinho e boa semana, sempre com boas energias e obrigada pelo teu carinho!

    ResponderEliminar
  2. Desabafa quando precisas de o fazer, porque calar o medo, a dor ou a alegria e a esperança, não faz bem a ninguém.

    ResponderEliminar
  3. É a falar, a deitar cá pra fora que limpo as paranóicas, as magoas, as tristezas e exorcizo os meus fantasmas :)

    ResponderEliminar

Obrigada :)

Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...