domingo, 26 de outubro de 2014

Reviver e visitar sem traumas, fica o bom e aprendesse com o mau

Ontem fui visitar um sitio onde muitos não vão concordar ou sentir o mesmo que vou dizer, mas para mim foi visitar velhos, melhor, visitar amigos e gostava de ir mais vezes.

  
Fui a clínica onde fiz diálise. Ontem tenho amigos entre todos os que la trabalham e os que la fazem diálise. Não recordo o tempo que la estive, dia após dia como um trauma a esquecer. Um pesadelo que preferia nunca recordar. Não vou ser falsa e dizer que preferia nunca lá ter estado pois claro que preferia nunca ter ficado insuficiente renal e ter conhecido uma maquina de diálise e tudo o que vem por adjacente. Mas a vida assim foi, a vida assim é e estas foram as cartas e são as cartas que me são dadas. Jogo o melhor que posso e faço sempre por aprender com os erros e melhorar a forma de jogar. Escolhi tornar os momentos de diálise como momentos para aprender, crescer, conhecer novas pessoas, aprender com elas, rir, chorar, falar tudo. Aproveitei para combater os meus demónios e tentar evoluir. Devo muito as pessoas que são e foram meus companheiros dia a dia, porque quem sabe se tivesse tido pessoas com um espírito diferente do meu, fechado e negro.. quem sabe não estaria aqui a falar desta forma.


Mas lembro, acima das dores, mal estar, enjoos, desmaios, sangramentos, tudo o que todos fazem cara de horror só de ouvir.. eu recordo com mais força as gargalhadas, as conversas, as caretas, as piadas, o trocar sadicamente de receitas de coisas que não podíamos comer, o de piadas trocadas com sabor a picante… recordo tudo. Não esqueço o que de mau vivi, mas escolhi aprender com isso e recordar com saudade dos bons momentos e as pessoas incríveis que me ajudaram a viver esta época mais difícil, estivessem elas ao meu lado ligadas, estivessem elas á entrada para me receber, ou na sala a ligarem-me ou seguirem-me na sessão. Sinto por todas um carinho que não consigo traduzir e por isso faço por ir sempre que posso ao sitio onde tanto recebi numa altura em que podia ter-me perdido em sofrimento, lágrimas, silencio e dor. Foram elas o farol que me manteve á tona no centro da tempestade.


E ontem quando ouvi aquele apitar da maquina que reconheço como não sendo grave mas chato, disse algo que deixou dois caramelos ;) chocados”senti saudades”. Porque esse apitar levou-me imediatamente para sessões bem passadas em risota ou conversa com pessoas, algumas, que já cá não estão. Em 4 anos vi partirem muitos companheiros e por todos sofri como se fossem família conhecida á anos. Vivemos imenso juntos e o sentimento é do mais forte que possam imaginar. Pudessem todos ser transplantados. Era o q eu queria. De coração. Mas o meu turno, e aqui não consigo nunca conseguirei falar no tempo passado, as pessoas do meu turno estão numa taxa etária acima dos 60’s , mas carregam neles não amargura, mas um espírito puro e livre e leve.


Por isso e por tudo o mais que fica aqui dentro apenas para my eyes only, eu visito e sinto saudades, não do mau, mas do bom que me manteve saudável “aqui” e “aqui” até que o meu momento de evoluir para a fase seguinte chegasse.
 

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