O que é que eu faço da minha vida? Que andei eu a fazer da minha vida até agora? Terei feito as escolhas erradas só para dizer que “pronto, escolhi.”? Eu considerava-me uma pessoa inteligente, agora acho que escolhi tudo errado. Escolhi mal a área a seguir. Escolhi mal os amigos que mantive e os que abandonei pelo caminho. Escolhi mal a pessoa com quem decidi viver. Escolhi mal vir viver com ele. Escolhi mal. Escolhi mal. Escolhi mal.
Quando nos damos conta do erro, há forma de recuperar? Como faço para dizer “parem esta vida, quero sair ou voltar atrás se faz favor!”? Há forma? Digam que sim.
Sou cobarde. Cometo as escolhas por medo e obrigação e depois vejo que errei e tenho medo de mudar, medo de admitir o erro e ficar com nada. Porque pior do que mau é nada. Eu sei que não devia de pensar assim, mas é assim que sou. Tenho medo. Normalmente o medo de algo faz-nos mais fortes, mais reactivas a algo, mas a mim não. Quando mais medo tenho, mais parada fico. Estou parada no meu expoente máximo.
Neste momento sou uma pedra. Uma pedra cobarde, incompetente, medrosa e cansada.
Estou cansada.
Já não choro sequer quando me dói. Dói-me o coração, a alma, o espírito.. mas não choro.
Os vivos sentem quando o seu corpo morre e estão na passagem desta para a próxima. Será que também se sentem morrer quando é por dentro? Acho que sinto. Sinto tudo a desligar aos poucos. Ora vou tendo momentos de sofrimento, seguidos de raiva e ódio, e por fim nada. Já nem lágrimas derramo por este funeral que é só meu.
Quase que ouço uma voz de algum homenzinho pequenino a dizer “Váááá! Já deu o que tinha a dar! Vamos apagar as luzes e fechar as portas! Isto está oficialmente encerrado! Todos para fora!”
E vão-se todos embora. Fico eu. Fico eu sozinha, sentada num chão frio e cinzento de betão. Olho em volta e parece que estou num grande e velho armazém, enorme, com umas janelinhas pequeninas em cima de onde se pode ver uma claridade fraca, o suficiente para eu conseguir ter a certeza que estou sozinha.
Estou no meu coração.
E milagre. Consigo chorar finalmente.