Às vezes penso que ninguém senão eu era capaz de viver esta
doença. Refiro-me a todos os que conheço, sem contar com os colegas de turno de diálise, porque esses já vivem esta vida, ainda que a tenham começado muito
mais tarde na vida do que eu. Vejo-os lamentarem-se de estarem doentes, com 80
e 70 anos e penso "então e eu?!"
Eu não sonho em chegar a velha. Não sonho em fazer muitas
coisas ou sentir muitas coisas que as pessoas da minha idade fazem e vivem e
sentem. Eu vivo e sinto e anseio por outras coisas.
Não quero dizer que sou especial, não. Sou diferente. Sou
diferente porque sou. Porque recuso-me a andar aos caídos, ainda que haja
alturas que só me apetece desistir com dores, tristeza, magoa, raiva, frustração.
E há pessoas que gostam de dar a entender que me entendem
meeeeeesmo e outras que gostam de sentir peninha de mim. Pois a ambas eu digo: não
obrigada. Não preciso de pena, não preciso de entendimento. Não sou nenhum
livro com metade das páginas rasgadas ou sujas ou indecifráveis.
Sou eu mesma. Sempre fui assim e sempre o serei. Sou teimosa,
obstinada, orgulhosa e uma lutadora que já foi pisada, cuspida e maltratada por
quase todas as pessoas na sua vida e de diversas formas e feitios e ainda aqui
estou.
Não digo que vá vencer esta luta. Esta luta será a minha
morte e dou-lhe já o crédito por isso, os louros e a fama. Mas não o troféu. Não
o prémio. O prémio sou eu e ainda que não possa fazer o que a maioria faz e eu
gostaria de fazer... Farei o que eu quiser e como puder e quando puder.
Vou continuar a ser eu, diferente e sem igual. Normal.