domingo, 22 de dezembro de 2013

Não sei bem o que chamar a isto...

Nunca gostei muito de ocasiões especiais, ou ocasiões aonde é comum existir ou ocorrerem demonstrações de sentimento. Primeiro porque nunca me ensinaram nada a não ser quais as consequências de não fazer tudo o que me mandassem quando me mandassem e como me mandassem fazer. Ensinaram-me ou treinaram-me a obedecer, comportar-me e fazê-los parecer bem. Afinal, quando o cão é bem comportado e ainda por cima inteligente, o dono é que é recompensado certo? Minguem pergunta ao animal quanto dele ficou perdido para sempre até que aprendesse aquele truque...

Talvez por isso também não goste de ver animais em cativeiro, circos, zoo etc...

Porque eu conheço o significado ínfimo de sofrer. Sei o que é chorar no silencio, sufocar as lágrimas na almofada até faltar o ar. Dormir com a alma dorida, sentir mesmo o coração cansado, dorido, partido... chorar ate não ter mais lágrimas. Cimentar o meu coração e os meus sentidos na procura de salvar algum pedaço da minha alma e espírito. Esquecer que sinto qualquer coisa com cada sova, com cada ofensa física ou verbal. Com cada humilhação.

...não levem a mal que o diga, mas a insuficiência renal não foi a etapa mais difícil da minha vida. Sobreviver intacta e razoavelmente funcional, saudável e inteira foi e continua a ser o meu maior feito e a recompensa de tantas lágrimas.

Acho mesmo que foi nessa altura que perdi a fé em acreditar numa divindade. Lembro-me perfeitamente de no meio de tanta solidão e desamparo, de sofrimento e lágrimas.. de perguntar porquê deus é que se ele existia e eu lhe implorava, porque é que continuava a sofrer. Pedia-lhe um fim para tanto sofrimento, viesse ele como viesse. Nunca tentei nada, talvez covardia, ou talvez uma vontade inerente a mim mesma de viver, de conseguir sobreviver, de contornar todas as hipóteses negativas de conseguir ser um ser humano, de viver a vida enquanto pessoa e da forma e critérios que eu considerava e considero certos.

Acredito plenamente em reencarnação do espírito e em vidas passadas, senão.. de onde vem as minhas definições e ideias de honra, respeito? De onde vem esta pessoa que contra tudo o que eu poderia me ter tornado, sou hoje? Porque contra todas as hipóteses, eu não deveria ser como e quem sou hoje. Deveria de ser um farrapo de ser humano, partido e vazio por dentro, sem força, sem conteúdo, sem essência.

Uma flor sem carinho amor atenção ou alimento para a sua essência.. não cresce, certo?

Por isso acredito que já "cá" estive antes. E tenho a sensação de muitas vezes. Ainda em nova sentia e sabia que era uma alma velha. Pelos vistos sou velha e burra. Porque devem estar a ser precisas muitas vidas para aprender as lições que tenho a aprender e corrigir os erros que fiz entretanto. Espero acertar, espero ganhar a recompensa de não voltar cá ;) dar a hipótese a outros.

Resumindo, que não resumo nunca nada mas pronto...

Não gosto de ocasiões especiais, o meu aniversario então odeio. sempre chorei. lembro-me de todas as ocasiões especiais ao longo da minha infância e ate quase em idade adulta e chorei em todas: aniversario, natal, férias, festas, ano novo, sei lá... tudo. Tudo está manchado. e todos os novos natais, aniversários, férias, festas etc... em todos eles eu tento mudar esta forma de senti-los.. mas ainda não domino. Já n choro no dia, mas fico deprimida nos dias antes e choro em alguns deles, depende das ocasiões e das situações claro.

No natal então é ainda mais difícil. Porque por mais que me distancie de quem tantas cicatrizes me fez, é no Natal que o pilar da minha saúde emocional, o meu amor, esta mais ocupado, chegando a ficar 2 ou 3 dias sem vir a casa ou sem descansar basicamente nada. E isso deixa-me naquele limbo solitário de emoções. Preocupada pelo seu descanso, ansiosa pela sua companhia, saudosa pelo seu apoio.

Por isso eu dou-vos os mais sinceros votos de Feliz Natal, mas é com o pensamento no Ano Novo que eu ando. Sobreviver emocionalmente á confusão do Natal e a muito egoísmo e consumismo que por hoje se encontra.. e siga para o ano novo. Ai sim vou começando a animar um pouco mais :)

Talvez por tudo o que escrevi, seja assim como sou... meio destrambelhada :)
Não é loucura, sou simplesmente eu.

...

Li isto tudo antes de fazer salvar e estive quase para apagar. É humilhante, não sei porquê mas é a sensação que sinto e que me irrita por não conseguir muda-la. Sentir-me humilhada por ter sido tão maltratada de tantas formas enquanto criança e até ao dia em que fui viver finalmente com o meu marido. Acho que é a parte da criança que morreu dentro de mim para que hoje consiga funcionar enquanto ser humano. Aquela criança que foi tão ofendida verbal e fisicamente. Aquela criança a quem lhe batiam com o que estivesse á mão, ou com a cabeça na parede.. a quem eram feitas ameaças de todos os generos se nao limpasse a casa toda ou fizesse isto ou aquilo. A quem, com tanto treino e trauma, se orgulhavam já mesmo na sua idade adulta perante quem quisessem que "bastava um olhar para que tremesse ou obedecesse". ... nem a um cão.. nem a um cão.. :(

vou publicar porque mesmo sentido-me humilhada em parte porque alguém para alem de mim irá saber algo tão intimo e tão humilhante para mim enquanto ser humano, algo que ainda hoje sei que apesar de todos os meus esforços, me traumatiza ao ponto de considerar-me humilhada por ter passado por tudo isto. porque enquanto uns foram amados e acarinhados, acompanhados, ensinados a amar e sorrir, confiar e desenvolver a sua auto estima.. eu não. Eu aprendi sozinha. Observando, fui aprendendo. Imitando e fingindo ser normal e feliz e igual a todos os outros, fui crescendo fingindo que não me sentia um pedaço de m....   Seguindo uma guia linha interna que não sei de onde veio.. cresci, sobrevivi, salvei o que consegui e sou hoje como e o que sou.

Por isso vou publicar, porque ainda que me sinta humilhada pelo que passei e por te-lo passado e não conseguir ainda hoje esquece-lo como queria.. sei que sobrevivi. E sei que mais pessoas como eu existem e quero que elas leiam isto e saibam que não estão sozinhas e que se me estão a ler hoje, é porque também sobreviveram e que mesmo que se sintam humilhadas como eu.. ao menos somos capazes de sentir. Não morremos por dentro.

Eu aprendi sozinha a sorrir, e é algo que nao faço bem, eu sei.. também não sei bem reagir a demonstrações de carinho, abraços, elogios... fico sem jeito, não sei simplesmente como reagir ou o que fazer... é desconcertante e fujo dessas situações. Demonstrações de carinho recordam-me tudo o que não tive e sinto sempre um pouco de pânico em demonstrar isso ao ter uma reacção diferente da que seria esperada, ou simplesmente chorar porque volto a sentir-me aquela criança solitária e sofrida, sedenta de carinho e amor.

Quem sabe um dia conseguirei esquecer definitivamente, posso demorar muito tempo, mas quem sabe.. um dia.

Por isso vou publicar isto e esquecer-me que o escrevi. Lança-lo neste universo impessoal e esperar que ajude a cicatrizar um pouco mais uma ferida que sinto que nunca fecha.

Sem comentários:

Enviar um comentário

Obrigada :)

Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...