Tirei finalmente os pontos da fístula. Tem assim o formato de uma linha semi arredondada com 8 pontinhos de cada lado que era aonde estavam os pontos. Fica na dobra de dentro do braço esquerdo e funciona. Quando lhe toco sinto aquele vibrar típico da coisa. Detesto-a. É uma marca definitiva das dores que irei ter quando for usada para os tratamentos. Só de imaginar que irei ser picada sempre, 3 vezes por semana, naquele braço com aquelas agulhas que de pequenas não teem nada… ate tremo.
A única coisa boa da fístula é que me irá fazer tirar definitivamente o cateter que tenho no peito e que parece começar a provocar-me alguma alergia ou irritação na pele e isso pode desenvolver em infecção. O que não quero. Não quero nada disto. O que queria era ter apenas os problemas normais de uma pessoa de 26 anos. Queria andar preocupada com o que dar o António para os anos dele quando os mesmos se aproximam a correr. E não andar preocupada com a consulta de transplante em santa cruz na próxima terça da semana que vem. Não andar preocupada com os quilos que ganho se beber mais água. Não andar preocupada com os horários dos remédios. Não andar preocupada com os pagamentos das baixas. Não andar preocupada com os tratamentos e merdas afins.
Ate o simples prazer que eu tinha de tomar banho me foi tirado. Agora demoro uns 40 minutos minuciosos em que tenho que ter cuidado com o penso do cateter para não o molhar, com a fístula para não lhe tocar e o caralho afins. Tiraram-me todo e qualquer pequeno prazer que tinha antes. Nada de fruta, nada de água, nada de nada. Nem vontade para o que quer que seja tenho.
A única coisa que sei é que não posso parar. Se paro, nunca mais consigo continuar. Por isso continuo. Por isso pedi ao António para trazer a bicicleta de ginástica que temos e monta-la na sala. É o eu me ajuda a continuar quando tudo o resto me puxa para baixo. Ultimamente ate as minhas articulações me parecem castigar mais quando estou algum tempo parada e me tento mexer de novo.
Como o António diz: ele, que sempre bebeu na juventude, e que fuma que nem uma chaminé e come todo o tipo de merdas e doces, está ali forte que nem um touro. Eu, que sempre tentei comer saudável, nunca fumei, nunca bebi álcool nem fiz merdas, tou aqui a cair de podre.
E no meio disto tudo, ate sinto saudades dos clientes a reclamar e dos meus colegas “chatos”. O que eu não dava para poder voltar a esses tempos e dar-lhe o devido valor. :(
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