Sim, continuo de baixa.
Como vou indo? Uns dias maus outros piores, alguns bons. Quando estou sentada e depois tenho que me levantar e andar, os meus joelhos parecem não querer funcionar e doem-me imenso. Coxeio quando começo a andar sempre que estou antes parada. A própria base do pé dói e custa a andar até apanhar o ritmo.
Quanto tempo vou ficar de baixa? Não sei. Não quero ficar muito tempo pois temo pela nossa liberdade e estabilidade financeira, mas há dias em que agradeço aos céus não ter que ir trabalhar pois juro que não conseguiria. Nunca sei quando acordo sem dores agoniantes no meu hematoma da perna ou no cateter ou na fistula. Cada dia é uma aventura no desconhecido da dor. Cada vez me habituo mais a sentir constantemente algum tipo de dor e já deixei até de tomar o comprimido que servia de analgésico pois já nem faz efeito.
O que sinto? Raiva, frustração, inquietação, medo, saudade. Raiva e frustração quando algo me relembra que já não estou equivalente a qualquer outro ser humano saudável, pois não sou saudável. Quando isso acontece? Quando por exemplo me apercebo que não posso beber sempre água quando tenho sede. Que não posso ir comer um gelado quando sentir calor e vontade. Que não posso comer fruta livremente. Que nem sequer feijão frade ou sopa posso comer. Que não consigo correr e que no supermercado tenho que me proteger de possíveis cotoveladas ou empurrões na fistula. Quando alguém vislumbra um bocado do penso do cateter no peito/pescoço e que por isso fica a olhar com aquele “olhar” – um misto de curiosidade, pena e medo.
Toda a minha vida tentei ser igual aos outros, invisível, mas mantendo a minha individualidade. Matar ou morrer, mas nunca desistir. Saber quando respirar e quando atacar. Um sorriso perante o medo e uma lágrima quando sinto tristeza.
Agora já não sou igual aos outros. Nunca voltarei a poder tentar ser. Mas também não sou individual. Neste momento parte do que fazia o meu “eu” perdeu-se. Perdi e continuo a perder numa luta que ainda agora começa e para a qual ainda não sei como lutar. Não desisto, mas não me encontro a vencer. Isso é de certeza. E isto é como me sinto.
Sem comentários:
Enviar um comentário
Obrigada :)